O amor não escolhe hora, lugar ou coração. De repente, ele cruza com você ali, na esquina. Mãos geladas, olhos nos olhos, palpitação... Mas era bom demais para ser verdade: ele é comprometido. Diante da verdade, o chão abre embaixo dos seus pés. Você tenta se esquivar, enganar seus sentimentos, mas não tem jeito. O cupido foi certeiro, fazer o quê?, você se apaixonou por um homem que já é de outra. E agora?
Aventuras, jogos e conquista
Está certo, se não ele não ostenta uma aliança no dedo, não dá para adivinhar se está ou não disponível. Mas mesmo depois da certeza, muita gente deixa o coração falar mais alto do que a razão. Segundo o psicoterapeuta sexual Oswaldo Rodrigues Jr., as pessoas mais vulneráveis a esse tipo de relação são aquelas que valorizam as emoções e as aventuras. E como negar a excitação, mesmo que inconsciente, de viver o desafio do romance proibido? O jogo da conquista do "impossível" é um teste de sedução que se dá a cada beijo, a cada gesto. E, para algumas pessoas, é impossível ficar de fora.
João Viana, 30 anos, publicitário, se envolveu com uma mulher comprometida e conta que os dois se conheceram no trabalho. Entre uma carona e outra, uma cervejinha aqui e outra ali, ficaram íntimos e pronto: rolou. "Foi um relacionamento de sete meses e, para conquistá-la, eu era capaz de tudo. Mas tinha na cabeça que o essencial era uma boa transa", revela. Quando se envolveu com uma mulher comprometida pela segunda vez, fazia de tudo para nutrir a imagem de príncipe encantado que ela tinha dele. "Eu vestia, de verdade, a camisa do "outro" na relação. Não podia ser eu mesmo, porque o amante precisa focar só no prazer, mas era como se eu me forçasse a gostar daquilo, porque sei que proporcionava a ela momentos muito mágicos e a mim também", diz.
Renata Souza, 38 anos, fonoaudióloga, também aposta na sua jovialidade e sexualidade à flor da pele para cativar o homem 27 anos mais velho, casado há 34 anos, por quem se apaixonou loucamente e com quem se relaciona há quatro anos. "É tudo que tenho a oferecer para ele, porque sei que ele gosta muito da mulher, mas como amiga, nada mais. Procuro dar a ele tudo o que a esposa não dá: sexo, beijos, carinho e a minha juventude", afirma.
Vivendo perigosamente
Para quem vive um relacionamento desses, às escondidas, os riscos envolvidos podem levar à loucura do prazer ou da insanidade. "Quando comecei a me relacionar com a Ana, casada, tentávamos nos afastar, mas cada momento que passávamos juntos era maravilhoso, porque era como se fosse o último", conta João Viana. Para ele, o proibido tem muito mais sabor, porque tem o gostinho da fantasia.
Já Renata chega às raias da loucura - e da mentira - para sustentar a relação. "Não tenho coragem de confessar para todos os meus amigos que vivo como amante de alguém e cheguei até a inventar um personagem, o Cláudio, para despistar - um namorado que trabalha muito e quase não tem tempo de me ver", conta. De fato, seu namorado vive mais em função da família e Renata acaba ficando em segundo plano, mas não consegue pensar e nem ficar com nenhum outro homem que não seja ele. Os amigos, claro, estranhavam sua solteirice. Daí que surgiu o Cláudio.
Renata Souza confessa que perdeu sua liberdade e seus sonhos. "Adoro sair para passear, mas tenho medo de nos pegarem juntos e penso muito bem antes de falar qualquer coisa, para não entregar os pontos", angustia-se. Fora o julgamento: Renata se sente muito julgada por aqueles que conhecem toda a história. "Ia ser madrinha de casamento de uma amiga e fui desconvidada pelo noivo, que não queria uma "amante" na festa. Isso me magoou muito", diz. E completa: "Mas não fisguei o "Cláudio" de propósito, foi paixão. E por ele abro mão de tudo, como já abri de ser mãe".
Elaconta, ainda, que o amante nunca escondeu que era casado. "Fui eu que me insinuei, mesmo vendo a aliança na mão esquerda, mas pago um preço por isso: ele não está sempre do meu lado quando preciso", desabafa. "O mais duro para mim foi o dia em que ele teve que me deixar para passar o carnaval com a família e eu acabei o encontrando, sem querer, no meio da folia, mas sem ser percebida. Fiquei muito triste ao vê-lo com a esposa", lembra. "Mas prefiro ter metade dele a não ter nada", afirma.
A vida paralela pode até parecer um conto de fadas repleto de mocinhos e princesas, mas quem garante o "felizes para sempre"? É claro que toda relação requer uma pitada de sonhos e loucuras, mas o psicoterapeuta sexual Oswaldo Rodrigues Jr. explica que o comportamento baseado exclusivamente nas emoções é irracional e sem metas. "A consequência pode vir a ser algo ruim, negativo e que faz sofrer", afirma.
Um relacionamento desse peso, segundo a educadora sexual Maria Helena Vilela, é muito prejudicial para a mulher, porque, ao se submeter aos caprichos do homem comprometido, que já está com a sua vida toda estruturada, mais do que a liberdade, ela acaba perdendo a individualidade. "Perde-se o controle da relação e da própria vida, porque acabamos nos tornando vulneráveis às vontades e horários do parceiro comprometido". Oswaldo Rodrigues Jr. complementa: "O relacionamento, na verdade, é vivido apenas parcialmente por ambos".
Ou seja, não tem como uma relação dessas ser saudável. Valéria Dias, 26 anos, médica, viveu um ano com um homem casado, mas nunca se deixou levar pelas histórias e caprichos do rapaz. "Nunca deixei de sair com outros caras, porque me via no direito. Mas logo ele, casado, não gostava, pode?", comenta. "Teve um momento em que acreditei que ele ia deixar a mulher para ficar comigo, mas quando percebi que daquele mato não ia sair coelho, resolvi cair fora. E até hoje estou aprendendo a viver sem ele, porque foi o meu grande amor", confessa.
Valéria percebeu que já fez tudo que tinha que ter feito para se tornar "a única" e, esgotadas as possibilidades, terminou o namoro. "Cansei de ser enrolada", afirma. E garante: "Depois que terminei, vi que ele é uma ótima pessoa como amante, mas como marido é péssimo. Ele passava dias comigo e deixava a mulher sozinha, em casa, com a filha". O publicitário João Viana também viveu o mesmo dilema: "Passei a me questionar como aquela mulher maravilhosa, por quem eu estava apaixonado, podia ser tão perfeita se ela traía o marido", conta.
Virando o jogo
O fato é que algumas pessoas buscam apenas os relacionamentos que mostrem que elas não são merecedoras da felicidade. "É preciso trabalhar a autoestima para que a pessoa perceba que pode ter muito mais e ser muito mais feliz", aconselha o psicoterapeuta sexual Oswaldo Rodrigues Jr. Não vale a pena passar a vida inteira à sombra de um homem. "Se o homem tem a amante como objeto de decoração, apenas para se autoafirmar, ele certamente vai largá-la se ela se tornar sua única mulher, porque vai enjoar", afirma Maria Helena Vilela. A própria Renata Souza, apesar de acreditar, no fundo, que um dia pode se tornar a esposa, procura não se iludir. "Acho que se eu casasse com ele, com certeza passaria por todos os estágios do casamento, inclusive o desgaste".
Maria Helena Vilela frisa que, às vezes, a mulher confunde atração sexual com amor e esse nobre sentimento se torna justificativa para tudo. "É preciso que a mulher tenha muita consciência do que realmente sente. Porque, afinal, a sociedade sempre está do lado da esposa", alerta a educadora. "E não adianta, alguém sempre vai acabar se machucando. Relacionamento é isso, seja a dois ou a três", completa.
Oswaldo Rodrigues Jr. atenta que entregar a vida nas mãos de alguém comprometido pode significar falta de amor próprio. Afinal, achamos normal sermos os segundos da fila, não sermos prioridade e, mais, podemos até achar que somos incapazes de despertar sentimentos como o amor.
Para quem vive em compasso de espera, Oswaldo Rodrigues Jr. tem um conselho: "Colocar-se na condição de esperar que o outro saia de um relacionamento é colocar o poder de decisão na mão dele. E quem precisa tomar essa decisão de dar um basta ou não à situação é você", finaliza.
Fonte: Bolsa de Mulher
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