Os romances entre pessoas da mesma família geraram controvérsias ao longo da história. Cleópatra teve que se casar com o irmão Ptolomeu XIII para seguir os costumes da dinastia ptolomaica. Já na Idade Média, essas uniões eram incentivadas no intuito de manter o patrimônio familiar. Mais tarde, porém, ocasamento consanguíneo passou a ser considerado uma imoralidade. E em pleno século 21, o assunto está longe de ser superado.
Pesquisas científicas atuais apresentam um elemento de complicação para os enlaces entre membros de material genético semelhante. O geneticista, professor da UERJ e pediatra Isaías Paiva explica: "A problemática é o risco maior de ocorrência dedoenças de herança recessiva autossômica".
Explicação científica
Todas as características do nosso organismo foram definidas através de uma dupla de genes, sendo um do pai e outro da mãe. Segundo Paiva, muitos de nós, mesmo não apresentando problemas, podemos ter mutações em um dos genes que são transmitidas a descendentes. "Em muitos casos, temos um gene com uma determinada mutação e outro sem. Aí a pessoa não apresenta nenhum sinal porque o gene sem mutação faz a atividade normal. A doença recessiva ocorrerá quando dois genes com as mesmas mutações, tanto o do pai quanto o da mãe, se unirem. No caso do casal com códigos genéticos parecidos, esse risco aumenta", diz.
É uma conta de probabilidade. Paiva afirma que tudo não passa de um estudo das heranças genéticas da família: "O geneticista vai fazer um levantamento genético das doenças recessivas na família e montar um heredograma que chega até a quinta geração". Nesse caso, ter um ancestral comum faz aumentar o risco desse encontro de genes recessivos iguais, chamado pelos especialistas de homozigose por origem comum. "É mais fácil que pessoas da mesma família partilhem das mesmas mutações genéticas", ressalta.
Riscos reais
Apesar de serem maiores, Paiva ressalva que esses riscos não são passíveis de impedir uma relação conjugal entre familiares: "Se, ao fazer o heredograma, não é encontrado nenhum histórico de doença, a chance do casal consanguíneo ter um filho que apresente uma doença genética é de 6%. Existem outros 94% de chances de gerarem uma criança normal. Quando o casal não é da mesma família, essa probabilidade é de 3%, essa é a única diferença".
Apesar dos riscos, não são raros os casos de união entre parentes. O mais comum, conta Paiva, é entre primos de 1º grau. Mas relacionamentos entre tios e sobrinhos também ocorrem com frequência. Quanto maior o grau de parentesco, maiores são as chances da homozigose. A recomendação é fazer oaconselhamento genético: "Fazer o heredograma para avaliar os riscos. Se não tiver nenhuma incidência de doença, a probabilidade fica naquele patamar de 6%. Entretanto, esse número pode chegar a 25%". São centenas de doenças oriundas dessas mutações genéticas, classificadas como autossômicas recessivas. "As mais comuns são a anemia falciforme, a fibrose cística e as mucopolissacaridoses", cita o geneticista.
De acordo com o professor, não somente os casais consanguíneos devem fazer o aconselhamento. "Todo casal no mundo tem 3% de probabilidade de ter um filho com problemas de origem genética. O ideal é sempre fazer uma consulta pré-nupcial para avaliar os riscos", recomenda.
O caso de Passione
Um romance na novela Passione trouxe o tema à tona. Os primos de primeiro grau Sinval (Kayky Brito) e Fátima (Bianca Bin) têm um relacionamento e fazem planos de ter um filho. Cientes dos perigos, ambos vão procurar orientação com um geneticista. O doutor da ficção diz ao casal que as chances de gerar um filho com uma mutação genética são muito grandes.
No mundo real, no entanto, o geneticista e professor da UERJ Isaías Paiva defende que o médico deve ser mais cauteloso. "Quando se diz que as chances são grandes, pensa-se logo em 80%. Eles saíram da consulta pensando que não poderiam ter filhos. A probabilidade aumenta, mas o percentual é de 6% apenas", justifica.
Outro ponto discutível na trama, na opinião do especialista, foi o médico ter sugerido que o casal optasse por adotar uma criança. "O geneticista não deve interferir na decisão do casal. O nosso papel é apontar os riscos, mostrar as probabilidades de doenças recessivas e dar todos os instrumentos para que os parceiros optem. Mas a decisão final é deles", acredita.
Fonte: Bolsa de Mulher
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