Chegamos e deixamos sozinhos este mundo. Ainda assim, acreditamos que a vida deve ser aproveitada em parceria. Já na infância surge o interesse pelo sexo oposto. Na adolescência, esse sentimento aumenta e lutamos para ter alguém especial do nosso lado, dividindo carinhos, atenção e boas experiências.
Com o passar dos anos, nos envolvemos em relações platônicas, breves, fulminantes. Seguimos nesse caminho até encontrarmos o que chamam de "verdadeiro amor". No meio do percurso, é normal sofrermos desilusões e, mesmo que momentaneamente, perdermos o interesse de nos envolver com outra pessoa. Para alguns, esse "tempo" pode significar o resto da vida, pois eles decidiram desistir da "busca" para ficarem sozinhos.
A solidão, portanto, pode ser entendida como uma opção, porque não há o interesse de encontrar um parceiro estável, e essas pessoas preferem privilegiar outros aspectos da vida. Outros solitários, por sua vez, pensam que o amor não lhes serve e daí aplica-se o ditado "antes só que mal acompanhado".
Vanessa tem 33 anos e um trabalho estável, que lhe permite atender a maioria de suas vontades. Há dois anos está solteira e diz que prefere seguir assim. "Tenho meu esquema de vida armado, não posso depender do que outra pessoa me diz. Não creio que volte a ter um relacionamento estável. A menos que seja da porta para fora, pois me acostumei com a minha independência", explicou.
A única coisa que lhe incomoda é o fato de suas amigas estarem sempre em busca de uma companhia para ela. "Prefiro amores ocasionais. Não gosto de viver dependente, prefiro a liberdade de não ter a necessidade de dar explicações a quem quer que seja", completa.
Solteirões estão em moda
A psicóloga Thamar Álvarez Vega ressalta que todas as opções que levam a felicidade são válidas e que viver sem uma companhia é aceitável sempre e quando for feito uma análise das vantagens e desvantagens da solteirice.
"Antes, o matrimônio era quase que uma obrigação. Por isso, aqueles que não se casavam eram perseguidos. Isso implicava em uma classificação de que tal pessoa tinha má sorte na vida. Hoje em dia, essa visão mudou radicalmente e se considera simplesmente como uma pessoa que quer permanecer solteira", explica Thamar.
Em geral, alguns solteiros têm ciúme de sua privacidade. "A solteirice é uma boa opção para quem é ativo, independente, gosta de viajar, enfim, que atua com completa liberdade de ação. Ou ainda para quem se considera infiel e prefere ser solteiro para ter múltiplos parceiros sexuais", opina a psicóloga.
Desilusões do amor
Diferente é o caso em que se opta pela solteirice, pois não foi encontrado alguém que corresponda às expectativas. Esse é o caso de María José, 30 anos, que está resignada a ficar sozinha. "A pergunta que me faço é onde estão os homens, já que me encontro sempre com muitos gays e tipos que não valem a pena", diz María.
A psicóloga Thamar Álvarez convida a todos que acreditam ter má sorte para que se auto-examinem. "A aproximação deve ser sempre uma ação motivada por uma atração real, pela compatibilidade de interesses e não apenas pela busca de uma companhia por medo da solidão", explica.
A especialista acrescenta que é preciso ter paciência, não se desesperar e continuar exigente. "Encontrar a pessoa ideal não é fácil e, quando isso ocorre, é preciso ter em mente que esse ser não é perfeito, é de carne e osso e possui virtudes e defeitos".
Por isso, se você tomou a decisão de permanecer solteira, e está convicta de que isso é o melhor, deve seguir adiante. Só com o tempo poderá saber se a decisão foi ou não equivocada. E, como tudo na vida, esta situação também não precisa ser necessariamente definitiva. O amor pode lhe surpreende e fazer com que todas suas crenças sejam esquecidas.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
domingo, 11 de outubro de 2009
Quando amar demais o outro é um problema
Em uma pequena sala nos fundos de uma igreja em São Paulo, dezenove mulheres sentadas em fileiras de cadeiras falam alternadamente sobre seus problemas no relacionamento. Em sua grande maioria, são relatos de frustrações, inseguranças e falta de companheirismo. Atrás de uma mesa coberta por uma toalha rosa, uma coordenadora cronometra os cinco minutos a que cada uma tem direto para contar sua história. As demais ouvem atentamente e lançam olhares de compreensão. Vez ou outra, uma mulher pede a palavra para contar como superou um casamento ou namoro desastrosos e servir de exemplos para as demais. É neste clima que ocorrem os encontros do Mada (Mulheres que Amam Demais Anônimas), um grupo que tem como objetivo ajudar mulheres a se livrar de relacionamentos destrutivos. "Não sei o que seria de mim sem vocês", é uma das frases mais ouvidas durante as reuniões.
Espalhado pelo mundo, o Mada chegou ao Brasil em 1994 por meio de uma mulher que prefere não se identificar e foi casada com um alcoólatra. Ela se inspirou no livro Mulheres que Amam Demais, em que a terapeuta familiar americana Robin Norwood conta sua experiência no envolvimento com um dependente químico, e decidiu seguir o conselho da autora: abriu um grupo no bairro dos Jardins, em São Paulo, para tratar da doença de amar e sofrer demais. Desde então, as reuniões ganham fôlego e ajudam pessoas como Fátima*. A comerciante de 42 anos esteve casada com um homem machista por mais de 20 anos até que terminou a união. Em um novo relacionamento há três anos, ela se vê novamente em uma posição de inferioridade, onde humilhações são constantes. "Ele me agride verbalmente, dizendo que ninguém, além dele, ficaria com uma baranga feito eu", desabafa. Segundo Fátima, ele se mostra ciumento e possessivo. "Não posso sair nem mesmo com meus netos."
Quem acompanha as reuniões percebe que elas são freqüentadas por mulheres vindas das mais diferentes classes sociais. São patricinhas descoladas, mães, solteiras e também aquelas como Fátima, que saiu de sua casa na periferia de São Paulo e pegou um ônibus para chegar à sala alugada nos fundos da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. A faixa etária também é abrangente, desde uma mulher de 24 que se casou há uma década até as senhoras que já são avós.
Não conseguir colocar um ponto final em um relacionamento já desgastado e doentio é motivo de desespero de muitas mulheres. Mas outras também sofrem quando a relação termina por iniciativa do outro. "Eu fazia escândalos, não aceitava que o homem que viveu comigo por cinco anos tivesse se separado de mim e, pior, não me ligava, não tinha o menor interesse em saber como eu estava", conta Miriam*, que há três meses freqüenta o Mada de Recife, uma das quarenta reuniões semanais que ocorrem no país. "Tenho vergonha de lembrar do que fiz e sei que não estou pronta para me envolver com outro homem", analisa.
A dificuldade de voltar a se relacionar é carregada de traumas que, segundo a psicoterapeuta Suely Molitérno, acabam "contaminado as próximas relações". Por isso, é importante a ajuda especializada e, caso não seja possível pagar por uma terapia individual, as irmandades anônimas, como o Mada, podem ser a saída. "O grupo oferece um espaço para falar do problema que, além de sigilo, exige interesse do ouvinte", diz Mary Boeira da Silva, psicanalista e diretora do Instituto Wilfred Bion, de Porto Alegre. "É um espaço de identidade onde é possível viver em um mundo em 'miniatura', com pessoas que possuem dificuldades semelhantes."
Assim como o Alcoólatra Anônimo - grupo que serviu de base para o surgimento de diversos outros -, o Mada possui 12 passos de recuperação (veja link acima). Além deles, o amadrinhamento por uma mulher que já freqüenta o grupo, a literatura indicada e o anonimato são, segundo os membros da irmandade, outros instrumentos para a melhora.
Muitas vezes é difícil diferenciar uma dor passional de uma obsessão pelo ser amado. Segundo Suely Molitérno, a psiquiatria chama de Transtorno de Perda o período de 60 dias após uma perda afetiva por morte ou afastamento. Passado os dois meses, e com a permanência dos sintomas de tristeza, a psicoterapeuta aconselha a busca por apoio profissional. Para a psicóloga Marcia Corrêa, a obsessão pode ser percebida ainda antes da perda. "Deve-se prestar atenção se o ciúme é muito grande, pois esse sentimento está diretamente relacionado à baixa auto-estima", explica. A saída para esse, e todos os demais problemas de dependência, é a cartilha de bom convívio social. Faça sozinha atividades como academia, aula de canto, violão, corte-costura e programe encontros só com amigos, deixando a parceiro à vontade para fazer o mesmo. "Dar liberdade faz com que o outro fique mais próximo", diz Márcia.
Eu que amo tanto
As histórias de mulheres que sofrem por amor foram transportadas para o livro Eu Que Amo Tanto, escrito pela atriz e jornalista Marília Gabriela e publicado pela Editora Rocco. A obra é focada nas histórias de 13 mulheres que sofrem por amar demais, todas narradas em primeira pessoa. "Eu apenas lapidei, literalizei os depoimentos dessas mulheres", explicou a autora.
A vontade de escrever o livro nasceu de seu envolvimento com o fotógrafo Jordi Burch - que assina as imagens da publicação. "Queríamos falar sobre o amor e o Mada tinha ficado na minha cabeça desde a novela de Manoel Carlos (Mulheres Apaixonadas, atualmente em reprise na seção Vale a pena ver de novo, na Rede Globo)", explica. Decidido o tema sobre seu novo projeto, Marília Gabriela foi parar em uma reunião do Mada e revelou sua intenção as participantes. "No primeiro contato, 16 mulheres aceitaram participar do livro, mas três desistiram no meio do processo", diz Marília Gabriela. "As 13 restantes vieram em minha casa e a maioria consentiu em posar para as ilustrações do livro".
Segundo a jornalista, é impossível não se identificar com os depoimentos. "As mulheres muitas vezes repetem padrões. E você percebe todos os equívocos, por exemplo, a vitimização causada pelo ciúme, que é confundida com amor", esclarece. Agora, Marília Gabriela planeja se infiltrar no "lado de lá". "Quero dar voz aos homens que se permitem amar demais", conta. Segundo a jornalista, dois rapazes já se mostraram interessados em contar suas histórias, e do que depender dela, muito ainda será dito sobre a transformação do amor em relações doentias.
:/
Espalhado pelo mundo, o Mada chegou ao Brasil em 1994 por meio de uma mulher que prefere não se identificar e foi casada com um alcoólatra. Ela se inspirou no livro Mulheres que Amam Demais, em que a terapeuta familiar americana Robin Norwood conta sua experiência no envolvimento com um dependente químico, e decidiu seguir o conselho da autora: abriu um grupo no bairro dos Jardins, em São Paulo, para tratar da doença de amar e sofrer demais. Desde então, as reuniões ganham fôlego e ajudam pessoas como Fátima*. A comerciante de 42 anos esteve casada com um homem machista por mais de 20 anos até que terminou a união. Em um novo relacionamento há três anos, ela se vê novamente em uma posição de inferioridade, onde humilhações são constantes. "Ele me agride verbalmente, dizendo que ninguém, além dele, ficaria com uma baranga feito eu", desabafa. Segundo Fátima, ele se mostra ciumento e possessivo. "Não posso sair nem mesmo com meus netos."
Quem acompanha as reuniões percebe que elas são freqüentadas por mulheres vindas das mais diferentes classes sociais. São patricinhas descoladas, mães, solteiras e também aquelas como Fátima, que saiu de sua casa na periferia de São Paulo e pegou um ônibus para chegar à sala alugada nos fundos da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. A faixa etária também é abrangente, desde uma mulher de 24 que se casou há uma década até as senhoras que já são avós.
Não conseguir colocar um ponto final em um relacionamento já desgastado e doentio é motivo de desespero de muitas mulheres. Mas outras também sofrem quando a relação termina por iniciativa do outro. "Eu fazia escândalos, não aceitava que o homem que viveu comigo por cinco anos tivesse se separado de mim e, pior, não me ligava, não tinha o menor interesse em saber como eu estava", conta Miriam*, que há três meses freqüenta o Mada de Recife, uma das quarenta reuniões semanais que ocorrem no país. "Tenho vergonha de lembrar do que fiz e sei que não estou pronta para me envolver com outro homem", analisa.
A dificuldade de voltar a se relacionar é carregada de traumas que, segundo a psicoterapeuta Suely Molitérno, acabam "contaminado as próximas relações". Por isso, é importante a ajuda especializada e, caso não seja possível pagar por uma terapia individual, as irmandades anônimas, como o Mada, podem ser a saída. "O grupo oferece um espaço para falar do problema que, além de sigilo, exige interesse do ouvinte", diz Mary Boeira da Silva, psicanalista e diretora do Instituto Wilfred Bion, de Porto Alegre. "É um espaço de identidade onde é possível viver em um mundo em 'miniatura', com pessoas que possuem dificuldades semelhantes."
Assim como o Alcoólatra Anônimo - grupo que serviu de base para o surgimento de diversos outros -, o Mada possui 12 passos de recuperação (veja link acima). Além deles, o amadrinhamento por uma mulher que já freqüenta o grupo, a literatura indicada e o anonimato são, segundo os membros da irmandade, outros instrumentos para a melhora.
Muitas vezes é difícil diferenciar uma dor passional de uma obsessão pelo ser amado. Segundo Suely Molitérno, a psiquiatria chama de Transtorno de Perda o período de 60 dias após uma perda afetiva por morte ou afastamento. Passado os dois meses, e com a permanência dos sintomas de tristeza, a psicoterapeuta aconselha a busca por apoio profissional. Para a psicóloga Marcia Corrêa, a obsessão pode ser percebida ainda antes da perda. "Deve-se prestar atenção se o ciúme é muito grande, pois esse sentimento está diretamente relacionado à baixa auto-estima", explica. A saída para esse, e todos os demais problemas de dependência, é a cartilha de bom convívio social. Faça sozinha atividades como academia, aula de canto, violão, corte-costura e programe encontros só com amigos, deixando a parceiro à vontade para fazer o mesmo. "Dar liberdade faz com que o outro fique mais próximo", diz Márcia.
Eu que amo tanto
As histórias de mulheres que sofrem por amor foram transportadas para o livro Eu Que Amo Tanto, escrito pela atriz e jornalista Marília Gabriela e publicado pela Editora Rocco. A obra é focada nas histórias de 13 mulheres que sofrem por amar demais, todas narradas em primeira pessoa. "Eu apenas lapidei, literalizei os depoimentos dessas mulheres", explicou a autora.
A vontade de escrever o livro nasceu de seu envolvimento com o fotógrafo Jordi Burch - que assina as imagens da publicação. "Queríamos falar sobre o amor e o Mada tinha ficado na minha cabeça desde a novela de Manoel Carlos (Mulheres Apaixonadas, atualmente em reprise na seção Vale a pena ver de novo, na Rede Globo)", explica. Decidido o tema sobre seu novo projeto, Marília Gabriela foi parar em uma reunião do Mada e revelou sua intenção as participantes. "No primeiro contato, 16 mulheres aceitaram participar do livro, mas três desistiram no meio do processo", diz Marília Gabriela. "As 13 restantes vieram em minha casa e a maioria consentiu em posar para as ilustrações do livro".
Segundo a jornalista, é impossível não se identificar com os depoimentos. "As mulheres muitas vezes repetem padrões. E você percebe todos os equívocos, por exemplo, a vitimização causada pelo ciúme, que é confundida com amor", esclarece. Agora, Marília Gabriela planeja se infiltrar no "lado de lá". "Quero dar voz aos homens que se permitem amar demais", conta. Segundo a jornalista, dois rapazes já se mostraram interessados em contar suas histórias, e do que depender dela, muito ainda será dito sobre a transformação do amor em relações doentias.
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